Publicidade médica nas redes sociais: o que pode dar processo?,
- Barbara Souza
- 14 de mai.
- 4 min de leitura
Você terminou a residência, está abrindo seu consultório e resolveu criar um perfil profissional no Instagram. Posta seu jaleco novo, uma dica sobre acne adulta, responde perguntas no story… e aí alguém te manda inbox:
“Ei, cuidado! Isso aí pode dar problema com o CRM…”
Será mesmo?
Se você é médica e está começando a se posicionar no digital, esse post é pra você. Vou te mostrar, de forma simples e direta, o que pode e o que não pode na publicidade médica segundo o Código de Ética e as resoluções do CFM — e, principalmente, o que pode te colocar em risco jurídico (e como evitar isso com tranquilidade).
📌 Antes de tudo: sim, você pode usar redes sociais
Vamos começar com a boa notícia: não existe nenhuma proibição contra médicas usarem redes sociais.
Pelo contrário. A comunicação médica está evoluindo, e informar a população — inclusive pelas plataformas digitais — faz parte da sua função social.
Você pode (e deve!) se posicionar profissionalmente. Mas há regras. E elas existem para proteger você, seus pacientes e a própria medicina como profissão.
❌ O que pode dar processo (ou te levar ao CRM)?
1. Postar “antes e depois” de procedimentos
Essa é clássica — e uma das mais perigosas. Mesmo com autorização do paciente, esse tipo de conteúdo é expressamente proibido pelo CFM.
O motivo? Ele pode induzir outras pessoas a acreditarem que terão o mesmo resultado, o que não é garantido em medicina.
🧠 Dica: Ao invés disso, use conteúdos informativos. Explique como funciona o procedimento, para quem é indicado, quais os cuidados necessários. Ensinar educa, engaja — e não infringe o código de ética.
2. Divulgar depoimentos de pacientes
“Obrigada, doutora! Você mudou minha vida!”Sim, é lindo de receber. Mas postar ou repostar elogios de pacientes é vedado. Mesmo com consentimento.
O depoimento pode ser interpretado como autopromoção — e isso vai contra o artigo 75 do Código de Ética Médica.
3. Publicar valores, promoções ou pacotes
Medicina não é e-commerce.Postar frases como "R$99 só esta semana", "pacote com 3 sessões com 10% de desconto" ou "promoção relâmpago" pode parecer uma boa ideia de marketing — mas fere diretamente as normas de publicidade médica.
Além do processo ético, pode abrir margem para ação judicial por propaganda enganosa, se houver qualquer insatisfação do paciente.
4. Prometer resultados
Frases como:
“Perca 10kg em 30 dias”
“Cura definitiva da insônia”
“100% de eficácia”Devem ser evitadas a todo custo. A medicina não permite prometer resultados.
Cada corpo é único. Cada tratamento, uma resposta diferente. E prometer algo que pode não acontecer é juridicamente muito perigoso.
5. Se declarar especialista sem RQE
Se você ainda não tem o Registro de Qualificação de Especialista (RQE), não pode se intitular como “dermatologista”, “ginecologista” ou qualquer outra especialidade.
Você pode dizer que “atua na área de dermatologia”, por exemplo — mas a palavra “especialista” só pode ser usada com o RQE registrado no CRM. Caso contrário, é considerado falsidade ideológica.
6. Usar termos sensacionalistas ou exagerados
Cuidado com:
“Milagre da medicina”
“Novo queridinho das celebridades”
“Procedimento revolucionário”
Esses termos podem parecer inofensivos, mas ferem o princípio da sobriedade na comunicação médica e podem dar abertura para denúncia ou até responsabilidade civil por engano.
👩⚕️ Então... o que você pode postar sem medo?
Bastante coisa! Veja só:
Seu nome completo, CRM e especialidade (com RQE);
Informações sobre seu consultório, dias de atendimento, como agendar;
Conteúdo educativo, como dicas de prevenção, explicações de exames ou tratamentos;
Bastidores do dia a dia, com uma abordagem respeitosa (sem expor pacientes);
Sua rotina de estudos, eventos científicos, congressos;
Postagens com linguagem clara e profissional, sem promessas ou comparações.
📱 E quanto aos stories e reels?
Sim, os stories e reels também são considerados “publicidade médica” e precisam seguir as mesmas regras.A informalidade da plataforma não muda o enquadramento ético e legal.
Atenção especial para:
Música de fundo que possa ser considerada irônica ou sensacionalista;
Conteúdo que pareça “brincadeira com o paciente”;
Vídeos em que o procedimento pareça ser feito em local inadequado.
⚠️ Casos que saem do CRM e viram processos judiciais
Além das questões éticas, existem situações que podem gerar processos civis ou criminais. Alguns exemplos:
Danos morais por uso de imagem de pacientes sem autorização formal;
Exposição indevida de dados sensíveis (por exemplo, prontuários em imagens de bastidores);
Ações por propaganda enganosa quando o paciente se sente lesado;
Indenizações por prática fora da área de competência (ex: médica sem especialidade realizando procedimento invasivo estético).
👩⚖️ Como se proteger?
Aqui vão 3 passos básicos que toda médica deveria seguir:
Tenha orientação jurídica especializada em saúde — antes de lançar campanhas ou conteúdos polêmicos.
Formalize termos de consentimento de imagem e dados, mesmo para stories simples.
Prefira sempre o posicionamento ético ao marketing agressivo. Confiança é um ativo de longo prazo.
💬 Conclusão
Você não precisa deixar de aparecer nas redes para se proteger — mas precisa fazer isso do jeito certo.
A boa comunicação médica informa, conecta e inspira confiança.E ela pode (e deve) ser feita com leveza, criatividade e responsabilidade.O marketing bem feito não é o que chama atenção — é o que constrói autoridade.
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